Seguindo a mesma linha do capítulo anterior, segue abaixo mais uma história. E essa realmente aconteceu, no final do ano passado.
É a vida que nos prega peças e nos dá lições, nos momentos mais inoportunos e inesperados.
Espero que gostem e uma ótima leitura a todos!
Como (quase) arrancar os cabelos
Muitas vezes a experiência a dois pode nos proporcionar ensinamentos dos mais variados. Acontecimentos nos fazem tirar conclusões sobre diferentes situações, o que pode causar espanto, visto que por vezes envolvem assuntos que nunca imaginaríamos presentes. Certas coisas que só acontecem quando se está junto de outra pessoa, como um casal, é claro.
Aproveito a deixa para introduzir esse breve momento dizendo que existem algumas atitudes humanas que necessitam de uma certa técnica, mesmo que nós achemos que não. É preciso, às vezes, prestar atenção no que se está fazendo, ou as conseqüências podem ser assustadoramente desastrosas. Felizmente, a história que estou prestes a descrever não atingiu tamanha dramaticidade.
Tarde de sábado, feriadão na praia. Estávamos sentados no sofá, aproveitando aquele momento de letargia que sucede o almoço. Tudo corria bem naquele fim de semana prolongado. Eu me preparava para relaxar durante as próximas duas horas, aproveitando a transmissão de mais um jogo da seleção brasileira na TV. Enquanto ela, arrumava as almofadas no meu colo, anunciando que em pouco tempo estaria dormindo embalada pela combinação: barulho do mar + peso no estômago + cafuné.
Começa o jogo, e antes dos cinco minutos, ela já dormia, enquanto eu assistia atentamente à partida, mantendo o movimento das mãos constante, em um gostoso cafunézinho. O jogo seguiu, assim como o sono, o cafuné e tudo mais, numa constância, de quase inércia.
Pra quem não sabe, um cafuné consiste de um carinho na cabeça e cabelos. Movimentos constantes que fazem qualquer pessoa relaxar tamanha a sensibilidade do couro cabeludo. Falando assim parece simples, não é mesmo? Pois não é. E eu explico por que cheguei a essa conclusão.
O cafuné, se executado com desatenção, especialmente em uma cabeça de cabelos longos (esse o caso) pode causar estragos irreparáveis no penteado. Como assistia ao futebol acabei não prestando atenção ao que acontecia sob minhas mãos, que devido ao nervosismo do jogo já não se movimentavam apenas em uma direção. Nessa altura do campeonato, depois de mais de uma hora de cafuné descontrolado, a besteira já estava feita, era só aguardar pra ver. E infelizmente, eu ainda não tinha percebido.
Lá pelos trinta do segundo tempo, ela finalmente acordou, com aquele trejeito de satisfação depois de um sono bem dormido. Olhei seu rosto amassado, analisei os cabelos, ainda sem perceber o tamanho do nó que havia provocado e disse:
- Nossa, como seu cabelo está engraçado...
Ao ouvir, ela levou a mão à cabeça e percebeu o, digamos, nó que se formara durante o sono. Olhou para a porta da sacada, e pelo reflexo percebeu que um “tufo” de cabelos havia se formado, e logo exclamou desesperada:
- Meu Deus, olha o nó que você fez aqui!
- Eu?! Mas eu só fiz um cafuné...
- Não! Não pode ser! Olha isso aqui...
E com a escova começou a tentar consertar a burrada que eu havia praticado, enquanto eu olhava a cena atônito, ainda tentando entender como um inocente e simpático cafuné poderia provocar tamanho desastre.
Passados quinze minutos de desespero, diante da possibilidade iminente da solução mais drástica possível – o corte completo dos cabelos – a situação foi habilmente contornada com golpes precisos de uma escova de cabelos. Mais calmos, conversamos, confabulando sobre o que tinha acontecido:
- Desculpa, na próxima vez vou tentar prestar mais atenção.
- Nossa, se eu tivesse que cortar o cabelo, você ia ver só!
- Sério?!
Risos. Silêncio. Olhou para a TV e concluiu:
- É, acho que não dá pra confiar em um homem assistindo futebol mesmo...